Bandeira Vermelha e Negra da FASP

Bandeira Vermelha e Negra da FASP
Bandeira da Federação Anarquista de São Paulo

A Confederação

" Quando a Confederação chegar nenhum muro, casa, apartamento, Status Cow, propriedades, radicais e trabalhos vão separar você de você que sera o carrasco e a vitima de você mesmo.
Por tanto se amem e sejam felizes, pois os bons frutos seram multiplicados e os maus frutos serão punidos em meu jardim.
Estou cansado de ganhar almas de Ingratos que ganharam tudo isto aqui e me prodizem maus frutos no paraizo. "

The Proibid

A Coluna Anarquista Organicista

A Federação Anarquista é a Espinha Dorsal do Anarquismo

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Federação Anarquista Uruguaia




A Federação Anarquista Uruguaia é produto de fatores históricos específicos do movimento anarquista uruguaio. Fundada em outubro de 1956 ela foi, em sua formulação, resultado de três vertentes que nortearam o anarquismo naquele país:

1 – tradição de luta classista e anarco-sindicalista. O 1º sindicato teria sido fundado em 1865. Já em 1875 há documentos que reivindicam autonomia do movimento sindical da política institucional. Federações Operárias já são fundadas no período 1875-1876;

2 –Bakuninismo- os operários que assinam o manifesto de 7 de julho de 1875 (ver acima) possuem identificação com as idéias de Bakunin. Esta será a 2ª corrente a influenciar posteriormente a FAU. Mais tarde, através da imigração muitos anarquistas espanhóis, imbuídos das idéias bakuninistas da Aliança da Democracia Socialista chegarão ao Uruguai. Basicamente a concepção de organização bakuninista fala de dois níveis de luta : um político (não institucional, claro) e secreto e outro, aberto, com características sindicalistas revolucionárias anarquistas. Por volta de 1890 o bakuninismo hegemoniza o movimento operário e anarquista do Uruguai ;

3 – Malatestianismo – em uma época posterior a esta concepção bakuninista se agrega a malatestiana (o Uruguai também recebeu grande contingente de imigração italiana, exemplo, os Fabbri). Um dos primeiros sindicatos do Uruguai, o dos padeiros, a Sociedad de Resistencia e Colocación terá estatutos redigidos pelo próprio Malatesta. No entanto, mesmo com esta inserção de Malatesta no início do anarco-sindicalismo uruguaio, é preciso lembrar a célebre polêmica de Malatesta com Pierre Monatte no Congresso Internacional Anarquista de Amsterdã em 1907 em que este defende o sindicalismo como meio e não como fim. As concepções de Malatesta que vão influenciar fortemente o anarquismo uruguaio desde sua formação são as de que a organização, como queriam alguns, não era necessariamente anti-anarquista. Para Malatesta em uma organização anarquista deve haver livre associação entre indivíduos ou grupos com um objetivo comum, com coordenação de forças, e que possuem o compromisso moral de manter os compromissos assumidos. A organização é necessária como estrutura de propaganda, relacionamento com outros grupos ou organizações. Para Malatesta a organização não cria a autoridade, mas é o único remédio contra ela. A partir desta base comum escolhem-se as formas práticas de atuar no dia a dia. Neste sentido Malatesta chega a formular a idéia do “partido” anarquista, não político, em bases institucionais e/autoritárias, mas como um grupo de indivíduos coesos em torno do objetivo da emancipação dos trabalhadores . Este “partido” procuraria ser o maior e o mais forte possível, mas não teria validade se não estivesse conectado aos movimentos sociais (na época ao proletariado). Quanto maior for esta união do “partido” melhor será para ele escapar à repressão, pois uma maior coordenação leva até à possibilidade de trabalhar clandestinamente em épocas de grande reação (como, veremos, foi o caso da FAU);.

4 – Uma das características a marcar fortemente o movimento anarquista uruguaio foi o da expropriação, principalmente a partir da década de 1920. Na história do anarquismo uruguaio há diversos exemplos de formação de grupos dedicados à expropriação e/ou à autodefesa popular que poderiam ocorrer em enfrentamentos, como o da padaria “Estrela do Norte” (conflito com fura-greves que resultaram em dois mortos, dois feridos), na segurança de comícios e protestos, sabotagem sindical e ocupações de fábricas e chagar até justiçamentos e atentados a patrões e carrascos. O exemplo mais clássico foi o de Michel Archangel Rossigna. Agindo na Argentina desde 1921 Rossigna chega ao Uruguai em 1928. Juntando-se a um companheiro que é solto da detenção e a um grupo de catalães indicado por Durruti assaltam a casa de câmbio Messina no centro de Montevidéu. Entre 1929-1931 escavaram um túnel de 50 metros até um presídio em frente por onde fugiram companheiros de Durruti presos. Em março de 1931 Rocigna é preso em Montevidéu e entregue à polícia política argentina que o mata e joga seu corpo no Rio da Prata;.


5 – um quarto componente que se desenvolve mais próximo a data de fundação da FAU é uma tomada de consciência dos problemas específicos da América Latina.

Produto da fusão da imigração européia (grande participação italiana e espanhola) com a fusão do imaginário popular sobre o gaúcho campeiro livre e rebelde em breve o anarquismo se incorpora no inconsciente social e nas reivindicações dos trabalhadores uruguaios.

Anarquismo antes da FAU

A Federación Obrera Regional Uruguaya – FORU fundada no período 1904-1905 será muito forte e combativa no movimento operário. Após a revolução russa haverá um processo de esvaziamento no movimento anarquista semelhante ao de outros países. Já em 1923 se constitui a União Sindical Uruguaia, mas que não adere à Internacional Sindical Vermelha, mantendo programa anarquista. A partir da década de 30 a influência anarquista e anarco-sindicalista declina no meio popular, havendo um incremento do anarquismo de ação armada. No entanto, continua viva em categorias mais combativas, padeiros, metalúrgicos, nas indústrias automobilística e química, trabalhadores dos frigoríficos e em bairros operários mais tradicionais de Montevidéu (Cerro e La Teja , por exemplo). É preciso assinalar que embora este declínio tenha acompanhado uma tendência internacional neste sentido, no Uruguai o anarquismo ainda manteve uma apreciável base operária.
Ao início da década de 50 diversos conflitos radicais preparam a fundação da FAU. Um deles uma greve nos frigoríficos do Cerro, em que os trabalhadores chegam a ocupar o bairro.
Na fundação da FAU estão presentes sindicalistas, militantes de bairro e setores juvenis e estudantis das Juventudes Libertarias e alguns anarquistas espanhóis exilados em conseqüência da vitória de Franco na Guerra Civil Espanhola Será uma organização especifista malatestiana e que tem como fim a revolução social. Para tal procurará agir como catalizadora e propagadora da luta revolucionária. Sua ação basicamente ocorrerá nos meios sindical e estudantil e nos bairros populares.

Um histórico de sua atuação.

A partir do final de 1958 o prenúncio da vitória dos revolucionários em Cuba, que ocorreria efetivamente a partir de janeiro do ano seguinte exerce grande influencia sobre a FAU que se decide pelo apoio crítico à revolução cubana dentro de um contexto de luta contra o imperialismo norte-americano, e vendo a ação revolucionária como método de ruptura do sistema capitalista. Este apoio levará a uma divisão da organização em 1964. Esta divisão vai se dar sobre a discussão de problemas práticos da militância, quais sejam:
- apoio aos movimentos armados que já haviam começado a atuar na América Latina a partir de Cuba;
-adesão dos militantes sindicais da FAU na fundação e atividades da central sindical Convenção Nacional de Trabalhadores;
- estratégia da organização de se desdobrar em atividades públicas e, simultaneamente, desenvolvimento de estrutura para atividades clandestinas, em vistas de uma nova situação mundial que começa a se delinear (como exemplo desta situação o golpe militar no Brasil será neste ano);
- outra estratégia militante foi a de se preocupar com reivindicações populares imediatas.

Em função da adoção desta orientação um grupo de militantes abandona a FAU. Quase todos ligados ao movimento estudantil. Mas boa parte da ala estudantil da FAU continua nela, assim com a maioria dos seus militantes do setor operário nela engajados,muitos militando em atividades sociais de bairro.
A partir daí houve considerável crescimento das atividades da FAU, principalmente em Montevidéu. Cada vez mais combativa e participando de várias frentes, a FAU se engaja como foi dito na Convenção Nacional dos Trabalhadores, central sindical que se propunha a um modelo não burocrático, com democracia interna e de tendência classista. Criaram-se grêmios de ação direta dentro da chamada Tendência Combativa. Dentro da tática das frentes a FAU participa do projeto do jornal Época, editado por vários grupos de esquerda de caráter mais combativo. Neste jornal é publicado em 1967 um documento de consenso entre várias organizações de esquerda para uma ação conjunta em áreas consideradas estratégicas. Este é o pretexto para o governo decretar a ilegalidade da FAU e de todas as organizações de esquerda, só permitindo o funcionamento do Partido Comunista Uruguaio. Suas sedes e sua imprensa são fechadas e muitos militantes presos. A FAU passa então à clandestinidade para a qual, como vimos, ela já vinha se preparando.


1968-1971

Neste período inicial de clandestinidade da FAU podemos destacar:que a FAU embora com sus militantes procurados pela polícia e em certa época com quase mais da metade deles presos consegue manter sua atividade sindical inclusive na CNT, no movimento estudantil, na luta contra o colaboracionismo do PC. E consegue realizar eventos internos de consulta a militantes ,tendo inclusive mudado sua direção geral e conseguido editar e circular sua publicação Cartas da FAU.
Em 1968 decisão orgânica da Federação leva à fundação da Resistência Obrera Estudantil, entidade de massa da organização, que parte para o uma estratégia de confronto, com ocupações de fábricas com participação estudantil e de sindicalistas em passeatas estudantis.É de se destacar que a inserção da FAU/ROE era maior no movimento operário que no estudantil, estando presente em poucas faculdades. Seu boletim Companheiro era de importante circulação e influencia.
Paralelamente a uma organização de massas a FAU desenvolve ao final da década de 1960 organização de seu “braço armado” a Organização Popular Revolucionária – 33 (OPR-33) que desenvolverá uma série de ações de sabotagem, expropriação econômica, seqüestro de políticos e/ou patrões particularmente detestados pelo povo, apoio armado a greves e ocupações de locais de trabalho,etc. A OPR integra o chamado Movimento de Libertação Nacional, também conhecido como Tupamaros (de Tupac Amaru, líder indígena que enfrentou os espanhóis na região dos Andes). Sua estratégia diferencia-se da das guerrilhas marxistas no resto do continente pelo abandono do foquismo e do modelo castrista. A versão marxista da luta armada no país tinha escassa inserção social (só simpatizantes) nos meios operários, mas talvez maior visibilidade na mídia, O aparato armado da FAU, fortemente influenciado pelo dos anarquistas espanhóis dos anos 30, será formado por grupos com autonomia tática, mas cujas ações passam pelo consenso global. Como golpe de propaganda expropriam a histórica bandeira do General Artigas que contém os dizeres Liberdad o Muerte.Procuram-se evitar violências fora de contexto, repudia-se a militarização. A organização da OPR é formada por unidades operativas compostas de 3 equipes de 5 companheiros e um encarregado geral. Para cada 3 unidades operativas há uma voltada para a atividade de informação, inteligência. A maioria de seus componentes provém do meio operário.A segurança tem prioridade e análises freqüentes determinam o grau de intervenção que se faz necessário a cada momento. 90% do financiamento da OPR provêm de expropriações e alguns seqüestros.

1971-1985

Ao final de 1972 a repressão já era bastante forte, prenunciando o golpe de estado que iria instaurar a ditadura militar no ano seguinte. Perante a ofensiva da repressão a FAU em um documento analisa a situação proclamando que mesmo perante as perdas sofridas pelo MLN a luta armada continuará, porque ainda havia organizações em condições de continuá-la. No entanto criticava o foquismo apresentado por alguns setores do MLN O “foquismo” se caracterizaria como o desencadear de luta armada a partir de um foco inicial sem prévia análise de condições sócio-econômicas, táticas e estratégicas, com destaque para guerra de guerrilhas no meio rural, negando o urbano, condições que não se dariam especificamente no Uruguai. A FAU reivindicava um objetivo de luta que não era a volta ao estado liberal burguês e a luta como parte de um processo de conscientização popular revolucionária, desprezando o simpatizante e com inserção social.
Em junho de 1973 sobrevém a ditadura militar., em um quadro de outras ditaduras na América Latina. No pequeno Uruguai há centenas de presos políticos. A FAU direciona seus esforços para uma greve geral que durante 15 dias ou um mês (as fontes não são precisas a este respeito) paralisará o país.A FAU determina a retirada da maioria de seus militantes para Buenos Aires,onde já se encontrava a direção e o pessoal da OPR. De 1973 a 1975 de Buenos Aires será dirigido um trabalho clandestino no Uruguai. Com o advento da ditadura argentina em 1976 cerca de 50 militantes da FAU na Argentina são presos ,torturados e/ou assassinados. Outros 50 são condenados a longas penas de prisão. A organização entra em colapso Cerca de 20 militantes realizam um congresso em Paris que adota uma linha reformista.
No entanto atividades clandestinas da FAU continuam no Uruguai e em 1985,com a queda da ditadura ela se reestrutura, havendo um encontro de velhos e novos companheiros desaparecidos no período da ditadura. Há praticamente uma refundação, .propondo-se esta nova organização como continuidade da anterior..

Os 90 e hoje

Em uma declaração de princípios aprovada em seu 10º Congresso em março de 1993 a FAU considera que :embora historicamente o anarquismo estivesse ligado a atividades sindicais ,estudantis e populares agora também possui apelo entre ecologistas ,pacifistas,feministas, defesa das minorias, etc.
Em um mundo dominado pelas diversas versões do neo-liberalismo e em relação à situação da América Latina a FAU destaca a decadência dos movimentos de inspiração marxista, após o final da guerra fria, e destaca o lado positivo da proposta zapatista que não reivindica a tomada do poder mas um processo crítico e participativo e também com uma posição crítica aos processo de luta armada ocorridos antes. Ainda como positivos e contrários ao sistema de exclusão total que se instaurou no continente frente à voracidade do império destaca as lutas pela defesa dos direitos humanos,a luta dos sem terra no Brasil, as lutas nas províncias argentinas, greves gerais em vários países.Prega a ecologia social e a ocupação dos espaços de luta deixados vazios por outras ideologias. A luta libertária pela igualdade de caráter classista, visando a uma socialização da economia da política, da educação, da justiça, da ciência, da arte, da tecnologia.Por uma democracia direta construída no dia a dia.Democracia, direta, autogestão, federalismo são consideradas como os três pilares deste poder popular (entendido como poder revolucionário) que se quer construir.Internacionalismo, ação direta a todos os níveis
Como metodologia de luta o documento recomenda o protagonismo das bases, e experiências de caráter demonstrativo que substituam o paternalismo, o estado e o capitalismo.Prática (comprometimento) política no sentido de haver enfrentamento com forças da reação . As alianças políticas visam a fortalecer o desenvolvimento do movimento popular, (associações de bairro,sindicatos, diretórios estudantis,etc)
Em 1995 a FAU se apresentava como uma organização em busca permanente pela responsabilidade e trabalho coletivo, com 3 frentes de atuação sindical, comunitária (bairros) e estudantil. Possuía influencia sobre os secundaristas que estavam à testa do movimento estudantil, em algumas categorias mais combativas e em alguns bairros populares de Montevidéu. A faixa etária de seus militantes variava dos 20 aos 60 anos, com maioria de jovens, Os militantes da FAU eram majoritariamente de base popular, não de classe média,possuíam uma forte identidade com as lutas da América Latina e promoviam um enfrentamento constante com os tecnocratas ,a repressão fardada e as multinacionais.
Dentro do quadro neo-liberal pós-ditadura militar, em meio à dominação imperialista, à falência da esquerda institucional, inserida nos termos do capitalismo, a FAU procura se integrar a todas as lutas populares com a luta por moradia, saúde, trabalho, educação. Contra o desemprego, a desocupação das fábricas, contras as repressões, as privatizações cometidas pelo modelo neo-liberal.. Os bairros tem ainda um grande papel , pois não são mais bairros operários mas agora bairros de desempregados, a par de continuar sua tarefa interna de reestruturação para reparar a destruição ocorrida durante a ditadura. Possui gráfica própria que imprime revista, jornal, cartazes, folhetos, manifestos. Os Ateneus libertários continuam funcionando e preparam um primeiro de Maio que conta com milhares de pessoas em uma manifestação já histórica que percorre vários quilômetros de Montevidéu todos os anos.


Milton Lopes (FARJ)


FONTES CONSULTADAS:


Juan C.Mechoso – Acción Directa Anarquista Una Historia de FAU,Editorial Recortes, Montevidéu, sem data (2002 ?);
Errico Malatesta – Textos Escolhidos, L & PM Editores, Porto Alegre, 1984;
Errico Malatesta – Escritos Revolucionários, Novos Tempos Editora, São Paulo,1989;
O Arcanjo Anarquista – Libera no 102, Ano 10, setembro-outubro 2000;
Bruno – Um Olhar sobre a F.A.U –Libera no 45, ano 5, fevereiro 1995;
Declaración de Princípios de FAU Aprobada em el Xo Congreso (Montevideo., Marzo de 1993);
COPEI, FAU, 1972;
Historia da FAU, 1999,texto impresso, retirado da Internet, sem indicação de autoria ou procedência;
50 Anos da Federação Anarquista Uruguaia, 2006, idem.

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